Mitos
Desodorizante provoca cancro da mama? 7 mitos sobre a doença
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Desodorizante provoca cancro da mama? 7 mitos sobre a doença

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Até ao momento, o cancro da mama é a primeira causa de morte por cancro nas mulheres. Em Portugal, todos os anos, são identificados cerca de 7 mil novos casos e morrem mil e 800 mulheres com a doença. Apesar do investimento de várias organizações na divulgação de factos sobre o cancro da mama, há mitos que persistem.

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Usar sutiã apertado provoca cancro da mama? A doença é quase sempre hereditária? E só afeta as mulheres? 

Em esclarecimentos ao Viral – e no âmbito do “Dia Nacional de Prevenção do Cancro da Mama” – Catarina Rodrigues dos Santos, coordenadora da Clínica Multidisciplinar da Mama do IPO Lisboa, e Natália Amaral, médica ginecologista oncológica e vogal da direção da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC), desconstroem sete mitos sobre a doença.

Mito 1: Está provado que usar desodorizante causa cancro da mama

Natália Amaral e Catarina Rodrigues dos Santos sugerem que a associação entre o cancro da mama e o uso de desodorizantes ou antitranspirantes surgiu devido à constituição destes produtos.

Por um lado, refere Catarina Rodrigues dos Santos, acreditava-se que “os parabenos, pelas propriedades semelhantes ao estrogénio, poderiam estimular o crescimento de células malignas na glândula mamária”.

Além disso, também se achava que “os sais de alumínio” presentes em alguns produtos interferiam “na resposta do sistema imunitário”.

Contudo, tal como o Viral também já tinha verificado, “nunca foi comprovado algum produto como tendo absorção cutânea com risco de induzir cancro de mama” (ver aqui, aqui e aqui), salienta a especialista do IPO Lisboa. 

Segundo a mesma médica, “outra hipótese para este receio infundado poderá ser porque, durante o tratamento com radioterapia, é aconselhado, para cuidados da pele, não usar desodorizantes”. No entanto, aponta, este conselho serve “apenas para proteção da pele e não por qualquer interferência no tratamento agudo”.

Mito 2: O cancro da mama só afeta as mulheres

É falso que o cancro da mama só afete as mulheres. As duas especialistas sublinham que cerca de 1% dos casos da doença ocorrem no sexo masculino. 

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Assim, esclarece Carina Rodrigues dos Santos, “em Portugal, considerando uma estimativa anual de cerca de 7 mil casos, cerca de 70 seriam respeitantes a homens”.

Ainda assim, aponta Natália Amaral, “há uma série de fatores predisponentes para o cancro da mama na mulher, que no homem não são assim tão evidentes”. 

Contudo, informa, também “há alterações hormonais que se pensa que têm a ver com o aparecimento deste cancro no homem”, sobretudo “quando há problemas hepáticos” envolvidos.

Mito 3: Comer soja aumenta o risco de cancro da mama

A resposta das duas especialistas questionadas pelo Viral é curta e direta: “Comer soja não provoca cancro da mama” (ver aqui, aqui e aqui).

Natália Amaral sugere que este mito surgiu pelo facto de “a soja ter fitoestrogénios, isto é, estrogénios vegetais”. No entanto, não há evidência científica que prove que consumir soja aumente o risco de desenvolver cancro da mama.

Aliás, como explicou anteriormente ao Viral Paula Ravasco, médica, nutricionista e diretora do Programa de Pós-graduação Internacional “Nutrição e Metabolismo em Oncologia” da Universidade Católica Portuguesa, “já existe uma vasta literatura a mostrar uma associação positiva entre a ingestão de soja e a prevenção do aparecimento de um tumor primário da mama”, sobretudo se esse consumo se iniciou em idades jovens, como a adolescência. 

A única advertência que Paula Ravasco e por Catarina Rodrigues dos Santos fazem é para as pessoas com doença oncológica da mama ativa ou em remissão após o tratamento. Porquê?

Catarina Rodrigues dos Santos explica que “a soja pode ter propriedades semelhantes ao estrogénio, usadas na tentativa de alívio de sintomas da menopausa”. 

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Nesse sentido, a soja “deve ser evitada em doentes a fazer terapêutica hormonal por cancro de mama”, apenas “por ter o potencial de interferir na absorção e mecanismo de ação da hormonoterapia”.

Mito 4: Os cancros da mama são quase sempre hereditários

Não é verdade que grande parte dos casos de cancro da mama sejam hereditários. “Apenas cerca de 5 a 10% dos cancros de mama são hereditários, ou seja, causados por uma mutação genética patogénica identificada”, adianta Catarina Rodrigues dos Santos.

Além disso, “a maioria dos casos são considerados esporádicos”, isto é, “dependentes de um conjunto de múltiplos fatores de risco e propensão individual, sem que se consiga atribuir o cancro a uma causa única”, explica.

As médicas referem vários fatores considerados como potenciadores do risco de cancro de mama, tais como: “idade”, “primeira menstruação precoce”, “menopausa tardia”, não ter filhos, “primeira gravidez tardia”, “terapêutica hormonal de substituição ou tratamentos hormonais prolongados”, “obesidade”, “história familiar de cancro e mama ou ovário”, “lesões de risco na mama” e “exposição a radiações”.

Mito 5: Usar sutiã apertado provoca cancro da mama

A ideia de que usar sutiã apertado causa cancro da mama não passa de um mito. Na perspetiva de Catarina Rodrigues dos Santos, “esta associação parece ter nascido da difusão do livro ‘Vestida para matar: a ligação entre cancro de mama e sutiãs’, dos autores americanos Sydney Ross Singer e Soma Grismaijer”.

A especialista do IPO Lisboa refere que o livro “tenta provar a tese de que o uso de sutiã comprime a mama, impedindo a drenagem linfática e provocando a acumulação de líquido e a formação de quistos que originariam cancro de mama”.

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Depois disso, “a discussão ganhou lugar na Internet, associada a campanhas contra o uso do sutiã”. E, desde então, “várias sociedades científicas têm publicado esclarecimentos sobre não existir qualquer relação comprovada entre o uso de sutiã e o cancro de mama”, aponta a mesma fonte.

Aliás, salienta, “o uso de sutiã é muitas vezes um requisito na recuperação após cirurgia por cancro de mama”.

Na visão de Natália Amaral, o único problema relacionado com uso de sutiã poderá ter a ver com alguns “aros” que possam causar “traumatismo no sulco mamário”. 

Mito 6: As mulheres jovens não correm o risco de ter cancro da mama

De facto, “o cancro da mama tem um crescimento de incidência com a idade até cerca da sétima década de vida, altura em que esta incidência estabiliza”, frisa Catarina Rodrigues dos Santos.

Por isso é que “a maioria dos programas de rastreio mamográfico aplicam-se ao intervalo de idades compreendidas entre os 50 e os 70 anos”, justifica a médica.

Contudo, isso não significa que não existem casos de cancro da mama em mulheres mais jovens. Aliás, estes casos, apesar de representarem um número reduzido, são uma preocupação para a European School of Oncology e para a European Society of Medical Oncology.

Num texto informativo alojado no site da LPCC refere-se que “o risco de uma mulher ter cancro da mama está aumentado se houver história familiar de cancro da mama, ou seja, se a sua mãe, tia ou irmã tiveram cancro da mama, especialmente em idades mais jovens (antes dos 40 anos)”.

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Mito 7: O autoexame é suficiente para detetar o cancro da mama

Segundo Catarina Rodrigues dos Santos, “o autoexame da mama é recomendado para deteção de alterações cutâneas ou nódulos palpáveis da mama”. Além disso, “a palpação da mama também é um instrumento de vigilância em consulta de rotina”.

Contudo, refuta, “a deteção precoce do cancro de mama visa identificar o tumor numa fase em que ele ainda não se manifestou clinicamente, ou seja, em que ainda não seja detetado no exame de observação ou palpação da mama”.

Assim, essa deteção “deve ser realizada por exames de imagem regulares” – como a “mamografia” – “e com uma periodicidade determinada pela idade e pelo risco”, sustenta a especialista.

Por outro lado, destaca Natália Amaral, através do autoexame detetam-se, com frequência, “quistos” inofensivos, sobretudo em mulheres que “tomam contracetivos”.

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cancro

30 Out 2023 - 10:34

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